DA REDAÇÃO
A cirurgiã-dentista Roseli Nunes da Silva Barranco, esposa do deputado estadual Valdir Barranco (PT), está na lista de servidores da Secretaria de Saúde de Cuiabá que recebem prêmio-saúde muito acima do valor de salário base.
Nomeada pelo prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) em fevereiro deste ano como coordenadora de Saúde Bucal na Capital, Roseli é comissionada e tem salário base de R$ 1,6 mil, mas recebe gratificação mensal de R$ 5,8 mil, ou seja, um valor 263% maior do que a sua remuneração.
O nome de Roseli está em uma lista de servidores que integra a investigação do Ministério Público Estadual e Polícia Civil, que culminou na Operação Capistrum, deflagrada nesta terça-feira (19) na Saúde da Capital.
O pagamento do prêmio-saúde, conforme o MPE, era feito de forma irregular pelo Município e contrariando notificação do Tribunal de Contas do Estado, que já havia determinado ao prefeito, em 2019, que regulamentasse o benefício, "estabelecendo os cargos que receberão a gratificação, os valores, a base de cálculo e a metodologia de cálculo do incentivo".
Conforme o inquérito, o ex-secretário de Saúde Huark Douglas Correia entregou uma tabela contendo a relação de servidores que estariam recebendo o prêmio-saúde indevidamente, tendo em vista que ocupam cargos que, nos termos da decisão do TCE, não poderiam receber o benefício.
Dessa lista, o MPE extraiu o nome de pelo menos 161 servidores que estariam recebendo a gratificação irregularmente e, apenas em julho de 2021, o valor gasto com o pagamento da gratificação giraria em torno de R$ 640.026,00.
"Multiplicado por 25 meses, que seria o tempo que a Prefeitura de Cuiabá estaria descumprimento a decisão do Tribunal de Contas Estadual, chegaria a assombrosa quantia de R$ 16.000.650,00, paga indevidamente aos servidores, em prejuízo dos cofres públicos municipais", diz trecho do inquérito do MPE.
"Mensalinho"
Criado como uma bonificação a servidores por metas atingidas, o prêmio-saúde varia de R$ 70 a até mais de R$ 5 mil.
Segundo as investigações, os valores a serem pagos aos servidores eram definidos sem parâmetro algum, com base em determinações do prefeito e da primeira-dama da Capital, Márcia Pinheiro.
O prejuízo ao erário calculado pelo MPE com o pagamento chega a R$ 16 milhões, razão pela qual a Justiça determinou sequestro de bens dos investigados até esse montante.
As nomeações e pagamentos de prêmio-saúde eram feitas, segundo o MPE, visando garantir apoio político a Emanuel, sendo que muitas das indicações eram inclusive atendendo a pedidos de aliados, como vereadores da Câmara de Cuiabá.
"É lícito concluir que as provas estão a revelar que, muito provavelmente, o pagamento indiscriminado do 'Prêmio Saúde', tal qual a contratação irregular de servidores temporários tem viés eminentemente político", apontou o MPE.
Operação Capistrum
A operação afastou do cargo o prefeito Emanuel Pinheiro, a secretária-adjunta de Governo e Assuntos Estratégicos, Ivone de Souza, e o chefe de Gabinete do prefeito, Antônio Monreal Neto – que também foi preso.
Além disso, também forma alvos a primeira-dama Márcia Pinheiro e o ex-coordenador de Gestão de Pessoas, Ricardo Aparecido Ribeiro.
Veja a lista:
Outro lado
Ao MidiaNews, Roseli Barranco defendeu o prêmio-saúde que recebe, afirmando que se trata de um valor regulamentado em portaria que considera os critérios técnicos e a complexidade de cada atribuição.
Ela explicou que, no caso dela, o trabalho envolve, entre outras coisas, a coordenação de mais de 180 dentistas em uim total de 360 servidores, além de 45 equipes que atuam nas unidades de Saúde da Família.
Eu não viria e ninguém especializado iria trabalhar para assumir um salário de R$ 1,5 mil, R$ 2 mil por mês, com a formação que eu tenho
"Sou cirurgiã-dentista e tenho três especializações. Esse cargo realmente tem um salário bem baixo. Para uma profissional da minha categoria é muito inferior. E o meu cargo é de dedicação exclusiva. Temos metas por especialidade para alcançar, indicadores que temos para priorizar", defendeu.
"Eu não viria e ninguém especializado iria trabalhar para assumir um salário de R$ 1,5 mil, R$ 2 mil por mês, com a formação que eu tenho. E eu tenho a formação para o cargo", completou.
Roseli citou que a portaria diz que o secretário de Saúde pode estabelecer, em caráter excepcional, um valor diferenciado de prêmio-saúde, e que no caso dela, o prêmio-saúde foi assinado pela ex-secretária da Pasta Ozenira Félix.
"Eu sou a coordenadora-chefe de todas as unidades, é uma diretoria. Então eu tenho o DAS em caráter excepcional devido à complexidade da atribuição. Eu acho que eu mereço o que eu ganho, eu trabalho muito, me dedico muito à saúde bucal de Cuiabá, e vários recebem prêmio igual ao meu. Além disso, os cirurgiões-dentistas que estão na ponta ganham bem mais do que a coordenadora, que sou eu", explicou.
fonte midia News