RAFAH, Faixa de Gaza/CAIRO (Reuters) - Bombas israelenses em Rafah arrasaram uma mesquita e destruíram casas no que os moradores chamaram de uma de suas piores noites até agora, enquanto o líder do Hamas estava no Cairo para negociações que os habitantes de Gaza esperam que possam trazer uma trégua a tempo de evitar um ataque total à cidade.
Moradores choraram sobre pelo menos sete corpos em sacos para cadáveres, dispostos em paralelepípedos do lado de fora de um necrotério na cidade, que fica bem perto da fronteira egípcia, onde mais da metade dos 2,3 milhões de habitantes do enclave palestino estão agora amontoados, a maioria em barracas.
"Eles levaram as pessoas que eu amo, levaram um pedaço do meu coração", lamentou Dina al-Shaer, cujo irmão e a família dele foram mortos em um ataque que, segundo parentes, atingiu sua casa pouco depois da meia-noite.
Autoridades de saúde de Gaza disseram que 97 pessoas foram confirmadas como mortas e 130 feridas nas últimas 24 horas de ataques israelenses, mas a maioria das vítimas ainda estava sob escombros ou em áreas que os socorristas não conseguiam alcançar.
A mesquita al-Farouk, no centro de Rafah, foi transformada em placas de concreto e as fachadas dos prédios adjacentes foram destruídas. As autoridades disseram que quatro casas foram atingidas no sul da cidade e três no centro.
Os moradores disseram que o bombardeio foi o mais pesado desde um ataque israelense à cidade há dez dias que libertou dois reféns e matou muitos civis.
"Não conseguíamos dormir, os sons das explosões e dos aviões sobrevoando a cidade não paravam", disse Jehad Abuemad, 34 anos, que vive com sua família em uma barraca. "Podíamos ouvir crianças chorando em tendas próximas, as pessoas aqui estão desesperadas e indefesas e Israel está mostrando seu poder sobre elas."
Autoridades de Gaza disseram que pelo menos 20 pessoas também foram mortas pelo bombardeio de duas casas em uma parte central da Faixa de Gaza, a única outra área substancial que ainda não foi invadida pelas forças israelenses em seu ataque de cinco meses.
Israel lançou sua campanha em Gaza depois que os militantes do Hamas, que controlam o território, invadiram cidades israelenses em 7 de outubro, matando 1.200 pessoas e fazendo 253 reféns.
Desde então, cerca de 30.000 pessoas foram confirmadas como mortas em Gaza, de acordo com as autoridades de saúde, com milhares de outros mortos e não recuperados em prédios reduzidos a terrenos baldios.
LÍDER DO HAMAS NO CAIRO
Israel ameaçou lançar um ataque total a Rafah, a última cidade no extremo sul de Gaza, apesar dos apelos internacionais - inclusive de seu principal aliado, Washington - de que tal ação poderia causar um banho de sangue.
Os moradores que fugiram de outros lugares para Rafah dizem que agora não há mais para onde ir. Enquanto isso, um fluxo de ajuda já escasso secou quase completamente nas últimas duas semanas, com as Nações Unidas dizendo que muitas vezes não é mais seguro transportá-la.
As negociações para chegar a um cessar-fogo fracassaram há duas semanas, quando o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, rejeitou uma contraproposta do Hamas para uma trégua de quatro meses e meio que terminaria com a retirada israelense.
Acredita-se que o Hamas ainda mantenha mais de 100 reféns capturados no ataque de 7 de outubro. O grupo afirma que não os libertará a menos que Israel concorde em encerrar os combates e se retirar de Gaza. Israel diz que não se retirará até que o Hamas seja erradicado.
A chegada do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, ao Cairo nesta semana, em sua primeira visita anunciada publicamente desde dezembro, foi o sinal mais forte, nas últimas semanas, de que as negociações não foram abandonadas. Haniyeh se reuniu com autoridades egípcias envolvidas na mediação, mas até agora pouco foi dito em público.
Sami Abu Zuhri, uma autoridade sênior do Hamas, disse à Reuters que Israel estava voltando atrás em relação aos termos que já havia aceitado no início de fevereiro em uma oferta de cessar-fogo elaborada com os Estados Unidos e mediadores do Egito e do Catar em Paris.
"A ocupação não está interessada em chegar a qualquer acordo", afirmou ele, acusando Netanyahu de ignorar a questão da libertação de reféns em uma troca de prisioneiros. "Ele só está preocupado em continuar a execução de palestinos em Gaza."
Não houve resposta imediata das autoridades israelenses aos comentários. Netanyahu tem dito que não concordaria com as "exigências ilusórias" do Hamas, mas que, se o grupo demonstrasse flexibilidade, seria possível fazer progressos.
FONTE: REUTERS