Conteúdo/ODOC – As dificuldades financeiras enfrentadas pelos produtores rurais em Mato Grosso levaram o estado a ser o líder nacional em pedido de recuperação judicial como alternativa à quebra da safra. Contudo, a Organização das Cooperativas Brasileiras no Estado de Mato Grosso (OCB/MT) alerta que contexto do agronegócio de Mato Grosso, a adoção da medida deve ser cercada de cautela porque os produtores podem sofrer com risco de crédito a médio prazo e, ao invés de se recuperar, atravessar um problema ainda maior.

Conforme a Serasa Experian em 2023, os pedidos de recuperação judicial por parte de produtores rurais que atuam como pessoas físicas dispararam 535%, saltando de 20 em 2022 para 127 no ano passado. Mato Grosso lidera o ranking desde 2021. A quantidade saltou de 3 naquele ano para 15 em 2022, chegando a 26 no ano passado. Ainda de acordo com a Serasa, os produtores rurais que mais solicitaram RJ em 2023 foram aqueles com maiores áreas de soja plantada. Em 2º lugar aparecem aqueles com áreas de pastagem.

A recuperação judicial é concebida como um mecanismo de reestruturação para empresas em dificuldades financeiras, permitindo-lhes manter a operação enquanto negociam suas dívidas. Entretanto, especialistas do setor agrícola e econômico apontam que, embora possa oferecer um alívio imediato, a recuperação judicial não se configura como uma estratégia de salvação a longo prazo para os produtores rurais.

“Aparentemente, a recuperação judicial é apresentada como a solução para redução de dívidas, mas isso passa longe da verdade. Fato é que o produtor passa a não ser mais gestor de seu negócio, a ter o crédito restrito seja por custo ou por não concessão, e todos os seus credores – sejam agentes de crédito ou um pequeno comerciante da cidade – passa pelo mesmo problema”, ressaltou o superintendente da OCB/MT, Frederico Azevedo.

Ele alerta ainda que a empresa ou produtor rural que entra em recuperação judicial deve atentar-se para inúmeros temas. O primeiro deles é que a partir do momento em que o ajuíza um pedido de recuperação judicial todo o mercado de fornecimento de crédito, seja ele bancário ou comercial, no caso dos produtores rurais tradings, revendas e multinacionais, passam a enxergá-lo com um risco maior, o que fatalmente irá impedir seu acesso ao crédito. E quando fornecido será com um custo maior e com mais solicitações de ofertas de garantias, lembrando que isso decorre da própria movimentação comercial que indica o seu credit score, ou seja, o índice que avalia a solvência do produtor.

Frederico pondera ainda que durante o período de recuperação, até a sua conclusão, que pode levar até mais de três anos, qualquer compra ou movimentação devem ser justificadas.

“A compra de um maquinário mais eficiente, um investimento em uma nova cultura ou área para melhoria da rentabilidade, e até mesmo uma troca de veículo do produtor, mesmo que para uso familiar, ficam aguardando autorização judicial”.

A OCB/MT tem se preocupado com o tema diante dos riscos associados à recuperação judicial, a fim de que produtores busquem alternativas que preservem a saúde financeira e operacional de todos os elos da cadeia agroindustrial. A renegociação de dívidas, a diversificação das fontes de crédito, a reavaliação de estratégias e custos como a revisão ou mesmo rescisão de arrendamentos e o investimento em tecnologias que aumentem a eficiência produtiva são estratégias que podem mitigar os impactos financeiros e sustentar o crescimento do setor, e ainda obter uma solução mais sustentável do que simplesmente ajuizar uma recuperação judicial e ter toda a gestão de seus negócios fiscalizada por um administrador judicial e pelo Poder Judiciário.


FONTE: O DOCUMENTO